Esta coletânea demorou muito para chegar a serimpressa – e mesmo assim, no meio de dúvidas e hesitações, depois de longas interrupções e algumas resmas de papel rasgado. Alguém, com certeza, dirá que deveria ter destruído estes trabalhos também – eu decidi conservá-los, muito embora não tenha alguma certeza de ter escolhido a opção certa. São exercícios poéticos escrevinhados e revisados ao longo de mais de vinte anos; anos de idas e voltas, de amizades tão fortes que até hoje atravessam tempo e espaço; de cumplicidades sempre renovadas e, para mim, mais do que preciosas.
De fato, a primeira parte, Lápis, já apareceu, graças à benevolente amizade de Liz Mercadante, na revista literária on line “O Caixote”, vários anos atrás, com uma introdução que não achei necessário reproduzir aqui. Devo confessar que não me retive e corrigi novamente vários poemas daquela primeira edição. Enfim, dei a este livro o título de “fragmentos”, o mesmo da sua parte central, a mais recente.
Dedico este “Fragmentos” aos meus amigos do Brasil e de Belém em particular. Alguns já nos deixaram – cedo demais, para nós todos. Em primeiro lugar, são eles que eu quero lembrar. Até agora, que estou escrevendo esta nota, sinto a falta da abismal erudição, da extraordinária fineza e sensibilidade artística de Benedito Nunes, da contundência poética do verbo de Max Martins, das sugestões às vezes irônicas de Maria Lúcia Medeiros.
Por minha sorte, há os que ainda correspondem comigo, afetos imperdíveis, irmãs e irmãos a quem muitíssimo devo, humana e literariamente. “A arte é uma somatória de dívidas”, disse-me uma noite Benedito Nunes, com a simplicidade que lhe era própria. Não sei se os meus poemas são verdadeiramente arte, criação,“poiesis”, mas espero que sirvam para pagar uma pequena parte das minha dívidas. Se este livro tem algum valor, é por mérito de todos esses amigos, que sempre lembro com profunda saudade, um por um. A todos eles, vai a minha mais sincera gratidão.
Lugano,24 de fevereiro de 2013